quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Arte e Artesanato Conceito e Diferenciação



Se a arte e o artesanato possuem um local específico dentro da sociedade, desempenhando cada um o seu papel, é importante introduzir neste trabalho a noção de centro / periferia para uma melhor compreensão do objeto aqui em estudo e de seus significados.
O centro pode ser definido como aquele pólo - geográfico, político ou econômico - que tem o poder de determinar ações, adoção de tecnologias, conceitos e/ou ideologias (que determinam formas de pensamento) por todo um território que esteja sobre seu domínio ou controle.
O conceito de periferia pode ser verificado, como o oposto de centro, como um local que engloba um espaço com sua população - e suas atividades sociais e econômicas - que estão afastados ou dominados (politicamente, economicamente, tecnologicamente e/ou ideologicamente) pelos pólos econômicos regionais, nacionais e/ou mundiais.

A partir daí aponta-se a questão do local em que a arte e artesanato são realizados (enquanto obra), em que são comercializados, em que são consumidos, em que são estudados, em que são analisados. A arte e o artesanato são antes de tudo o trabalho de pessoas que, com finalidades diversas, realizam algo.
Não se pode mais, dentro do contexto do Brasil e da América Latina relacionar o artesanato apenas às áreas distantes dos grandes centros urbanos. Com a migração das populações, e a mudança de atividades dentro das áreas urbanas, a atividade do artesanato é hoje realizada não só nas periferias dos grandes centros mas também dentro de sua própria área urbana. Dentro de contexto contemporâneo - não apenas por ter deslocado o seu lugar de realização - o artesanato já incorporou elementos de outras culturas, verificando-se características que estão além de sua matriz original.
Se o conceito de arte, na época atual, é produzido e consumido dentro dos grandes centros, o mesmo corre o risco de reduzir-se apenas a eles mesmos (enquanto centros), ignorando o fato de que o artesanato - enquanto obra e qualquer que seja ele - é fruto do trabalho de pessoas que o consideram sua arte pois é fruto de sua produção, de seu conhecimento próprio e de sua cultura. Observa-se que esta colocação é apontada tendo em vista dois grupos sociais distintos - artistas e artesãos - com características, produções e conceitos também distintos.
Na atualidade, as relações de trabalho podem ser verificadas e analisadas na produção artística, a partir do momento em que, dentro da realização de um trabalho, a mesma envolver mais de um indivíduo em sua produção. 
Por exemplo, poderá haver aquele indivíduo que, detendo o conhecimento e os meios da produção de seu fazer, trabalha com seus ajudantes - ou seus auxiliares - que tendo, ou não, o mesmo conhecimento que o detentor dos meios de produção - estarão ali recebendo por seu trabalho executado. Situação similar poderá ser analisada junto àqueles indivíduos que, sem a posse dos meios de produção, estarão ali trabalhando com alguém que detém estes meios - aprendendo determinado ofício (com remuneração ou não) - verificando-se, deste modo, uma outra forma de relação de trabalho.

Por fim, apresentar os conceitos de arte e artesanato, dentro de um contexto sociológico, não é tarefa das mais fáceis. Tal tarefa surge aqui como um conflito, mas todo conflito se torna inevitável e é sempre útil na medida em que define questões.
O que realmente são? Os mesmos se opõe? Quais as suas finalidades ou as suas especificidades? Onde são produzidos? Seus espaços? Seus públicos? 
A quem se destinam? Em que contexto devem ser inseridos? Talvez a formulação destas perguntas possam até mesmo ser uma das respostas para o presente trabalho

Definir arte na atualidade é, antes de tudo, retomando o conceito de Duchamp, apontá-la como um espaço apropriado para a produção visual do século XX.

A forma como é apresentada e/ou consumida determina um local definido para compreender também a sociedade e a forma de sua organização.
Sobre o artesanato, que utiliza-se de matrizes que transformam-se com o decorrer da modernidade, não pode-se dizer que possui menor criatividade que a arte. O mesmo, produzido por determinados grupos coletivos, ou indivíduos isolados dentro do tecido urbano, relaciona-se diretamente a um sentido prático do que e para que é feito - função determinada quando são produzidos - que pode ser, por seu usuário (público), posteriormente modificada.


Nos dias atuais, se dentro de uma sociedade urbana, o local de consumo da arte e do artesanato pode ser definido por galerias, museus, mercados ou feiras, a definição e diferenciação do que é culto ou popular deve passar por uma avaliação mais criteriosa dada a circulação de informações dentro de uma sociedade inteiramente massificada definindo formas de expressão - na arte e no artesanato - que se nutrem de uma mesma base.



Deve-se ressaltar também que se arte e o artesanato realizam-se enquanto produção, ou atividade produtiva de determinado elemento cultural, os mesmos devem ser observados como fenômenos sócio-culturais distintos dadas as suas especificidades, apesar do visível paralelismo que se desenvolvem na atualidade.

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