Se a arte e o artesanato possuem um local específico dentro da
sociedade, desempenhando cada um o seu papel, é importante introduzir neste
trabalho a noção de centro / periferia para uma melhor compreensão do objeto
aqui em estudo e de seus significados.
O centro pode ser definido como aquele pólo - geográfico, político
ou econômico - que tem o poder de determinar ações, adoção de tecnologias,
conceitos e/ou ideologias (que determinam formas de pensamento) por todo um
território que esteja sobre seu domínio ou controle.
O conceito de periferia pode ser verificado, como o oposto de
centro, como um local que engloba um espaço com sua população - e suas
atividades sociais e econômicas - que estão afastados ou dominados
(politicamente, economicamente, tecnologicamente e/ou ideologicamente) pelos
pólos econômicos regionais, nacionais e/ou mundiais.
A partir daí aponta-se a questão do local em que a arte e
artesanato são realizados (enquanto obra), em que são comercializados, em que
são consumidos, em que são estudados, em que são analisados. A arte e o
artesanato são antes de tudo o trabalho de pessoas que, com finalidades
diversas, realizam algo.
Não se pode mais, dentro do contexto do Brasil e da América Latina
relacionar o artesanato apenas às áreas distantes dos grandes centros urbanos.
Com a migração das populações, e a mudança de atividades dentro das áreas
urbanas, a atividade do artesanato é hoje realizada não só nas periferias dos
grandes centros mas também dentro de sua própria área urbana. Dentro de contexto
contemporâneo - não apenas por ter deslocado o seu lugar de realização - o
artesanato já incorporou elementos de outras culturas, verificando-se
características que estão além de sua matriz original.
Se o conceito de arte, na época atual, é produzido e consumido
dentro dos grandes centros, o mesmo corre o risco de reduzir-se apenas a eles
mesmos (enquanto centros), ignorando o fato de que o artesanato - enquanto obra
e qualquer que seja ele - é fruto do trabalho de pessoas que o consideram sua
arte pois é fruto de sua produção, de seu conhecimento próprio e de sua
cultura. Observa-se que esta colocação é apontada tendo em vista dois grupos
sociais distintos - artistas e artesãos - com características, produções e
conceitos também distintos.
Na atualidade, as relações de trabalho podem ser verificadas e
analisadas na produção artística, a partir do momento em que, dentro da
realização de um trabalho, a mesma envolver mais de um indivíduo em sua
produção.
Por exemplo, poderá haver aquele indivíduo que, detendo o conhecimento e os meios da produção de seu fazer, trabalha com seus ajudantes - ou seus auxiliares - que tendo, ou não, o mesmo conhecimento que o detentor dos meios de produção - estarão ali recebendo por seu trabalho executado. Situação similar poderá ser analisada junto àqueles indivíduos que, sem a posse dos meios de produção, estarão ali trabalhando com alguém que detém estes meios - aprendendo determinado ofício (com remuneração ou não) - verificando-se, deste modo, uma outra forma de relação de trabalho.
Por exemplo, poderá haver aquele indivíduo que, detendo o conhecimento e os meios da produção de seu fazer, trabalha com seus ajudantes - ou seus auxiliares - que tendo, ou não, o mesmo conhecimento que o detentor dos meios de produção - estarão ali recebendo por seu trabalho executado. Situação similar poderá ser analisada junto àqueles indivíduos que, sem a posse dos meios de produção, estarão ali trabalhando com alguém que detém estes meios - aprendendo determinado ofício (com remuneração ou não) - verificando-se, deste modo, uma outra forma de relação de trabalho.
Por fim, apresentar os conceitos de arte e artesanato, dentro de um contexto sociológico, não é tarefa das mais fáceis. Tal tarefa surge aqui como um conflito, mas todo conflito se torna inevitável e é sempre útil na medida em que define questões.
A quem se destinam? Em que contexto devem ser inseridos? Talvez a formulação destas perguntas possam até mesmo ser uma das respostas para o presente trabalho
Definir arte na atualidade é, antes de tudo, retomando o conceito
de Duchamp, apontá-la como um espaço apropriado para a produção visual do
século XX.
A forma como é apresentada e/ou consumida determina um local
definido para compreender também a sociedade e a forma de sua organização.
Sobre o artesanato, que utiliza-se de matrizes que transformam-se
com o decorrer da modernidade, não pode-se dizer que possui menor criatividade
que a arte. O mesmo, produzido por determinados grupos coletivos, ou indivíduos
isolados dentro do tecido urbano, relaciona-se diretamente a um sentido prático
do que e para que é feito - função determinada quando são produzidos - que pode
ser, por seu usuário (público), posteriormente modificada.
Nos dias atuais, se dentro de uma sociedade urbana, o local de
consumo da arte e do artesanato pode ser definido por galerias, museus,
mercados ou feiras, a definição e diferenciação do que é culto ou popular deve
passar por uma avaliação mais criteriosa dada a circulação de informações
dentro de uma sociedade inteiramente massificada definindo formas de expressão
- na arte e no artesanato - que se nutrem de uma mesma base.
Deve-se ressaltar também que se arte e o artesanato realizam-se
enquanto produção, ou atividade produtiva de determinado elemento cultural, os
mesmos devem ser observados como fenômenos sócio-culturais distintos dadas as
suas especificidades, apesar do visível paralelismo que se desenvolvem na
atualidade.
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